Ao longo da história, pessoas investiram tempo e recursos para garantir segurança, conforto e prosperidade. No entanto, poucos conhecem a fascinante trajetória daquele que pode ser considerado um dos primeiros investidores da humanidade: Tales de Mileto. Um filósofo grego do século VI a.C., Tales não era apenas conhecido por suas reflexões filosóficas sobre o universo, mas também pela sagacidade financeira que demonstrou em certa ocasião. Sua história nos permite compreender profundamente as origens do investimento financeiro e suas implicações até os dias atuais.
Tales viveu em Mileto, uma próspera cidade grega situada na região da atual Turquia. Diferente de outros pensadores de seu tempo, ele não vinha de uma família especialmente rica ou poderosa. Sua maior riqueza era seu intelecto curioso e observador. Conta Aristóteles, em sua obra “Política”, que Tales foi ridicularizado por sua pobreza e falta de bens materiais. Irritado com os comentários, decidiu provar que seu conhecimento poderia lhe render dinheiro se ele quisesse.
Após cuidadosa observação do clima e das condições atmosféricas, Tales previu que no ano seguinte haveria uma grande colheita de azeitonas. Com base nessa previsão, ele decidiu arrendar todas as prensas de azeite de Mileto e de Quíos antes da época da colheita. Naquele momento, ninguém valorizava aquelas prensas, pois não havia demanda imediata por elas. Tales conseguiu fazer isso pagando valores muito baixos, assegurando o direito exclusivo sobre as prensas na região.
Quando a temporada chegou e a previsão de Tales se confirmou, houve uma colheita excepcionalmente abundante. Todos os agricultores necessitavam urgentemente das prensas para produzir azeite a partir das suas colheitas. Nesse momento, Tales tinha o monopólio absoluto e pôde alugar as prensas pelo preço que julgou justo. Com isso, acumulou uma considerável fortuna, provando aos seus críticos que, apesar de filósofo e estudioso do universo, poderia facilmente dominar o mundo financeiro quando desejasse.
Essa história não é apenas uma curiosidade histórica. Ela revela elementos fundamentais sobre investimentos que ainda hoje regem mercados financeiros globais. Tales praticou, mesmo sem nomeá-las, técnicas modernas como a análise fundamentalista e estratégica de mercado. Ele observou dados reais e tangíveis, avaliou cenários e tomou decisões baseadas em fatos concretos, não em especulações sem fundamento.
O sucesso financeiro de Tales também esclarece um equívoco comum sobre riqueza: a ideia de que apenas quem possui altos salários ou patrimônios herdados é capaz de acumular fortuna. Tales não era rico de nascimento e não recebia grandes salários. Sua riqueza veio de sua capacidade de observar oportunidades, entender o funcionamento do mercado e planejar com antecedência ações estratégicas que multiplicassem seu patrimônio inicial, modesto e limitado.
Outro ponto importante da história de Tales é a paciência e a visão de longo prazo. Ele não buscou ganhos imediatos; pelo contrário, investiu tempo em estudos e análise das condições do mercado antes de agir. Isso demonstra a importância do planejamento e da paciência em qualquer jornada financeira. Ainda hoje, investidores bem-sucedidos são aqueles que sabem esperar o momento oportuno e se antecipar às necessidades futuras do mercado.
Além disso, o caso de Tales revela o impacto da informação privilegiada, não no sentido ilegal ou antiético, mas da informação fundamentada e cuidadosamente analisada. Tales não teve informações secretas ou confidenciais, mas acessou e analisou com atenção dados que estavam disponíveis para todos. Sua habilidade estava na interpretação correta e assertiva dessas informações, algo essencial para o sucesso em qualquer tipo de investimento financeiro.
A história financeira de Tales de Mileto nos inspira e nos lembra que o sucesso financeiro, desde os primórdios da humanidade, está associado muito mais à inteligência, estratégia e planejamento do que apenas à posse inicial de riqueza. Seu legado perdura, demonstrando que a verdadeira riqueza pode ser construída a partir da observação, do estudo dedicado e da ação estratégica.
Hoje, ao olhar para trás, entendemos que Tales foi muito mais do que um filósofo: ele foi um visionário financeiro, possivelmente o primeiro investidor consciente da história, cujas lições continuam relevantes, mesmo passados mais de dois milênios. Seu exemplo comprova que inteligência financeira, acima de tudo, depende da capacidade de entender profundamente o ambiente ao nosso redor e agir com confiança diante das oportunidades que surgem, algo que qualquer um de nós pode desenvolver.
ARISTÓTELES. Política. Tradução de Mário da Gama Kury. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985.
BERNSTEIN, Peter L. Desafio aos deuses: a fascinante história do risco. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
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HAWLEY, Frederick Barnard. Enterprise and the Productive Process: A Theory of Economic Productivity. Nova York: G.P. Putnam’s Sons, 1907.
KIRSHNER, Jonathan. Appeasing Bankers: Financial Caution on the Road to War. Princeton: Princeton University Press, 2007.

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