Homem surpreso diante de uma pirâmide feita de dinheiro, com notas voando ao redor.

Promessa de Lucro, Risco de Ruína

Em 2008, uma senhora americana chamada Ruth Madoff recebeu um telefonema que mudaria a vida dela para sempre. Do outro lado da linha, seu marido, Bernard Madoff, confessava que todo o império financeiro que ele construíra ao longo de décadas era, na verdade, uma farsa. Bernard Madoff foi responsável pela maior pirâmide financeira da história, movimentando mais de 65 bilhões de dólares. Pessoas comuns, milionários, celebridades e até instituições de caridade perderam tudo ao confiarem em promessas de retorno garantido. O golpe, que durou mais de 20 anos, desmoronou como um castelo de cartas, arruinando a vida de milhares de pessoas. Esse caso, que ficou mundialmente conhecido, é o retrato mais nítido da armadilha que se esconde por trás de promessas fáceis de lucro. E é sobre isso que precisamos conversar hoje.

A lógica é simples: quanto maior a promessa de lucro, maior o risco de ruína. Essa frase, apesar de parecer um clichê, carrega uma verdade profunda e frequentemente ignorada. Em momentos de instabilidade econômica, crise financeira ou simplesmente diante da ambição humana, torna-se fácil cair no canto da sereia. A proposta parece irresistível: investir pouco, lucrar muito, em pouco tempo e com suposta segurança. Quem não gostaria disso? O problema é que o mercado financeiro legítimo não funciona dessa forma. Retornos altos e consistentes sem risco são uma impossibilidade matemática e econômica. Toda aplicação financeira carrega consigo algum nível de risco, e qualquer promessa de retorno fixo e elevado, dissociado desse risco, deve ser encarada com extrema desconfiança.

As pirâmides financeiras, que hoje assumem diversas roupagens modernas, são o exemplo mais claro desse tipo de armadilha. Elas se alimentam da esperança de pessoas que, muitas vezes, estão em busca de uma saída para dificuldades financeiras ou desejam melhorar rapidamente de vida. A estrutura de uma pirâmide é insustentável: o dinheiro dos novos participantes é utilizado para pagar os lucros dos que chegaram antes. Não há geração de valor, não há investimento real, não há produto ou serviço que justifique os ganhos. É uma ilusão de prosperidade, que só se mantém enquanto houver novos participantes entrando na base. Quando essa base deixa de crescer, o esquema entra em colapso e os últimos a entrarem — normalmente a maioria — são os que mais perdem.

No Brasil, temos exemplos marcantes. A Telexfree, por exemplo, prometia lucros extraordinários com a revenda de pacotes de telefonia VoIP. A empresa chegou a atrair cerca de dois milhões de pessoas antes de ser interditada pela Justiça em 2013. O que parecia uma oportunidade de ouro revelou-se um golpe bilionário. Outro caso emblemático é o da Boi Gordo, nos anos 2000, que iludiu milhares de investidores com promessas de lucros no agronegócio, sem qualquer base sólida ou transparência nos negócios. As histórias se repetem: empresas que se apresentam com aparência de seriedade, discurso sedutor e uma base inicial de pagamentos que convence os primeiros participantes, criando uma aura de credibilidade.

O ponto central da questão é que a ganância, combinada com a ignorância financeira, forma o terreno fértil ideal para esses golpes. E aqui não se trata de julgar quem caiu em uma pirâmide. A verdade é que qualquer um pode ser vítima, inclusive pessoas bem instruídas. Madoff, por exemplo, enganou investidores experientes e fundos sofisticados. O que nos protege, portanto, não é apenas o nível de instrução, mas a consciência crítica e a educação financeira sólida. Precisamos entender como o dinheiro funciona, como funcionam os investimentos legítimos, quais são os riscos envolvidos, como identificar sinais de alerta. Isso é uma defesa ativa contra os falsos gurus que proliferam por aí.

A promessa de lucro rápido é um apelo direto à nossa emoção. Ela pula etapas, ignora o esforço, despreza o tempo. Por isso, ela é tão perigosa. É como uma isca perfeita: reluzente, mas com um anzol escondido. E o problema é que, quando a pessoa percebe que caiu, já é tarde demais. O estrago financeiro, emocional e, muitas vezes, familiar, já está feito. Há pessoas que perdem economias de uma vida inteira, que vendem casas, que pedem empréstimos para colocar em esquemas assim, convencidas de que estão fazendo um bom negócio. A promessa se transforma em ruína.

No mercado legítimo, os retornos são proporcionais ao risco. Isso é inegociável. E qualquer pessoa que afirmar o contrário está, no mínimo, desinformada — e, no máximo, mal intencionada. O primeiro passo para não cair em armadilhas é duvidar de propostas que parecem boas demais. O segundo é buscar fontes confiáveis de informação e aprender a investir de forma consciente, com objetivos claros, metas realistas e paciência. Investimento é maratona, não corrida de cem metros. Quem promete chegada rápida pode estar apenas encurtando o caminho para o abismo.

É essencial entender também que os golpes evoluíram. Hoje, eles vêm disfarçados de fintechs, plataformas digitais, moedas virtuais e até em discursos de liberdade financeira. Não é o formato que define o golpe, mas a mecânica por trás dele. Se o lucro vem unicamente da entrada de novos participantes e não de uma atividade econômica real e sustentável, estamos falando de uma pirâmide. E mesmo quando há produtos ou serviços envolvidos, se a remuneração principal depende do recrutamento de pessoas e não da venda legítima, o risco de fraude é altíssimo.

Diante de tudo isso, precisamos cultivar uma postura crítica e, ao mesmo tempo, generosa. Crítica para não sermos enganados. Generosa para orientar e alertar quem está ao nosso redor. Muita gente entra em esquemas assim por indicação de familiares ou amigos bem-intencionados que também foram enganados. O efeito cascata é devastador. Por isso, compartilhar informação de qualidade, debater finanças com responsabilidade e incentivar a educação financeira desde cedo são atitudes que fazem diferença.

A história de Madoff e de tantos outros esquemas nos mostra que o perigo é real e está mais próximo do que imaginamos. A ganância existe, mas a educação é o antídoto mais eficaz. Se algo parece fácil demais, questione. Se o retorno prometido parece bom demais para ser verdade, provavelmente é. E se alguém disser que você pode ficar rico rapidamente e sem risco, fuja.

Promessas de lucro rápido continuarão existindo. Mas, quanto mais preparados estivermos, menos vítimas existirão. O risco de ruína pode ser evitado com informação, consciência e, acima de tudo, com a humildade de reconhecer que não existe milagre financeiro. Existe trabalho, estudo e tempo. Esse é o único caminho seguro para construir riqueza verdadeira e duradoura.

PONZI, Charles. The Rise and Fall of Charles Ponzi. Boston: Self-Published, 1935.

SANTOS, Luiz Alberto. A Fraude da Boi Gordo: o maior golpe do agronegócio brasileiro. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 43, n. 2, p. 317-332, mar./abr. 2009.

MELLO, Leonardo. O caso Madoff: lições de um bilionário fraudador. São Paulo: Alta Books, 2010.

COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (CVM). Alerta ao investidor: Esquemas de pirâmide. Disponível em: https://www.gov.br/cvm/pt-br/assuntos/noticias/alerta-aos-investidores-esquemas-de-piramide. Acesso em: 01 abr. 2025.


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Nota do Revisor:

Este texto reflete a opinião do autor sobre o tema e não constitui uma recomendação de investimento. Todas as informações devem ser verificadas conforme necessário. Embora tenhamos nos esforçado para garantir a precisão das informações, erros podem ocorrer. Recomendamos que os leitores consultem outras fontes e realizem suas próprias pesquisas para obter uma visão completa e fundamentada sobre o tema.

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